#4

naufrágios

Era como aquela última cena que você imagina o que será da vida daquele personagem a partir dali.

Ele atravessou a rua pensando no último beijo. Ainda nutriam muitos sonhos juntos, negociavam fins de semanas, pensavam num café da manhã a dois. Agora tudo muda.

Ainda continuarão com muitos sonhos, virão os fins de semanas e toda manhã cobrará seu café. Mas sem o outro…

No supermercado, Márcio começa a redimensionar as unidades que precisa comprar agora. Com um agravante: nunca dominou bem as listas de compras.

Cristina levantou exausta da noite que saiu com um cara pra esquecer do ex, mas precisa correr pra pegar o voo. Mal fez as malas, na verdade odeia fazer isso, e parece ser o único momento em que sente falta de Márcio.

Ambos estão bem fudidos, sempre conversavam sobre tudo!

“E se você pudesse ser a estrela do Rock por um dia, quem e qual década seria?”

“Essa esquerda fisiológica é esquerda ou governismo?”

Mas a merda do relacionamento eles não viram afundar. Foi bom assim, um ciclo se fecha pra outro se abrir. Não sou apenas eu que falo ou você que pensa no meio dessa ladainha inteira. Mas ambos tentavam repetir toda manhã como um mantra. Alguns dias um estava bem, o outro mal…. Cidade grande, sabe? Não dava pra saber quando acontecia. Mas teve choro, culpa, raiva, ódio, surtos e busca por sentidos a serem dados pros vazios que restaram.

Na memória o amor virou história que os dois lutaram pra mantê-las como recordação. Cris disse que virou obsessão, Márcio discorda e diz que foi ele quem sofreu mais…

Ambos continuam teimando nessa disputa da dor mais profunda sentida com o fim. Como podem ver, continuam competindo. Formaram um casal encantador, hoje mal se cruzam pela rua.

A vida é como aquele filme com “final sem sentido”. E por que deveria fazer? Pessoas vem e vão, cafés da manhã nem sempre são tomados acompanhado, a cama pode ficar espaçosa demais de um dia para o outro e sonhos não são imutáveis.

Lição número 1: Aprender a arrumar minhas malas.